Na zona onde vivo há muitos cães e, sobretudo à noite, os donos saem de casa às horas habituais para que os seus cães possam conviver com os demais. O engraçado nisto tudo é que toda a gente conhece o nome dos cães, conhecemos as brincadeiras, as manias, as histórias mais patéticas uns dos outros. Também é curioso a comunicação que se estabelece entre os donos. Falamos alegremente, sempre com o olhar perdido nas brincadeiras dos respectivos cães (como se de pais babados se tratassem) e conhecemos, superficialmente, as profissões uns dos outros. No outro dia estava a falar com a Joana acerca de solidão urbana e não contei porque não me lembrei mas ter um cão e passeá-lo com prazer e amizade é um passo muito grande que se dá no convívio entre pessoas do bairro. Jamais conheceria estas pessoas se não tivesse o Açor. Se me altera a minha lógica diária? Não, mas dá-me outra percepção da vida em comunidade. Às vezes lembro-me de um poema que a Joana tinha no antigo quadro de picos cuja mensagem era: queres conhecer o mundo sem conhecer as pessoas com quem vives todos os dias (visto assim parece básico, mas era bonito).